7° TTT - Travessía Torres - Tramandaí 2011 - 84km 100% areia e emoção.

Olá amigos, vou tentar contar para todos como foi a experiência de correr os 84km pelas areias do Litoral Gaúcho, mas antes preciso fazer alguns agradecimentos especiais.

Primeiramente um agradecimento póstumo a minha mae, pois sem ela eu nunca estaria aqui e nao teria chegado onde cheguei, se hoje sou a pessoa que sou (profissional e atleta) devo tudo a ela que me ensinou os principais valores da vida e que nunca alcançaremos nada se nao nos dedicarmos.

Também quero agradecer a todos meus amigos que estiveram me apoiando, nao somente para essa prova mas sim e toda minha caminhada ao longo da vida, a um devo um agradecimento especial, Felipaaaaaaaaummmmm por ter me acompanhado e apoiado em todos os pontos de controle da prova, irmao muito obrigado.

Primeiro tenho que comecar contando que resolvi tirar a semana antes prova de férias e fui para o Brasil para tentar me adaptar ao clima do Rio Grande do Sul, que em alguns dias é simplesmente desumano, calor de 38° e 70% de umidade ( e nao é uma idade avancada nao).

Na sexta-feira 04 de fevereiro (meu aniversário) dia anterior a prova, tinha a idéia de sair de Porto Alegre pela parte da manha e ir para Torres (200km de Porto Alegre e lugar da Partida da Prova) para descansar durante o dia, conhecer o ponto de partida e realizar os ultimos ajustes antes da prova.

Infelizmente nao foi possível, pois meu irmao Felipe, que me acompanhou durante a prova fazendo o apoio, tinha compromissos de trabalho e só conseguimos sair de Porto Alegre as 22hs da noite e foi ai que comecou toda a aventura.

Correr 84km já é algo monstruoso, fazer isso pela areia é desumano, agora fazer tudo isso sem dormir, sem jantar no dia anterior e sem tomar café da manha no dia da prova é 100% insano.

Pois foi isso que aconteceu, saimos as 22hs de Porto Alegre e adivinhem!!!!!! Engarrafamento gigantesco na estrada que leva a Torres, resumo: chegamos em Torres as 2hs30min da manha, até acharmos um hotel (pois nenhum hotel quis fazer reservas antecipadas para somente uma noite) já eram 3hs da manha, nos hospedamos, descarrega o carro, arrumo todas as coisas para corrida, cinturao com gatorade, mochila, número na camiseta, bolsas de alimentacao, pares de tenis, meia e camisetas adicionais, já eram 3hs30min da manha.

A largada da prova era as 6hs, mas eu tinha que estar lá as 5hs para entregar um atestado médico e retirar o Chip, logo as 4hs30min da manha tinha que estar em pé (1h deitado para relaxar).

Felipao acordou cedinho e me levou de carro até o local da parida, ficamos alguns minutos juntos e ele voltou para o hotel para fazer o checkout e buscar sua namorada (Kaka) que tinha ficado dormindo.

As 6hs era a partida somente para a categoria individual, entao tinham mais ou menos uns 300 atletas (homens e mulheres) um número que achei bem grande para a categoria individual (depois descobri que as duplas largavam no mesmo horário).

6hs em ponto foi dada partida, algumas pessoas sairam correndo como se fosse uma prova de 10km, pensei comigo: Estao todos loucos!!!!! Sabia que seria questao de tempo (e pelo ritmo deles muito pouco tempo) para alcancá-los e até passá-los.

Nao foi diferente, lá pelo km 4 já estava entre os 5 primeiros da prova (Categoria Individual).

É preciso relembrar que decidi realizar essa prova em pura homenagem a minha Mae que faleceu dia 7 de janeiro, pois em funcao da morte de minha maezinha, nao consegui treinar, porém se tudo isso nao tivesse acontecido eu teria treinado bem e ela estaria me esperando na Meta, entao resolvi fazer essa homenagem a ela e tb encontrei uma boa forma de fechar um ciclo de coisas, digamos pesadas, que passei no ultimo ano.

Estava encarando essa prova como minha virada de Ano, nao que minha virada tenha sido ruim, muito pelo contrário, foi ótima, é que como minha mae faleceu logo na primeira semana do ano, fiquei com aquela impressao de que tinha que deixar as coisas ruim para trás e queria utilizar essa prova para isso.

Esclarecido os motivos, sigo relatando a aventura.

Logo nos primeiros km de prova (sempre pela areia) comecei sentir umas fisgadas nas pantorrilhas (nao esquecam da minha aventura para chegar na praia e que estava correndo sem dormir, sem comer, etc..etc..etc..) pensei comigo, nao vou dar bola, daqui a pouco isso irá passar. Tinha prometido a mim mesmo correr os primeiros 46km da prova tranquilo, pois sabia que mesmo sem treinar, 46km nao seriam problemas e ia fazer que a prova realmente começasse depois dos 46km, esqueci as pantorrilhas e segui meu ritmo.

A TTT é uma prova que tem distintas Categorias, Individual (para loucos), dupla (para meio-loucos), quarteto e octeto, em funcao disso os 84km sao divididos em 8 pedacos, cada um com uma distancia diferente, nao sao necessariamente todos os trechos com a mesma distancia, dessa forma ao final de cada trecho existe um controle (para o chip que cada atleta utiliza), ponto de hidratacao, fotógrafos, torcida etc...

Antes da prova defini com o Felipe 04 "paradas" estratégicas, para reabastecer gatorade, alimentacao, troca de tenis, meia e camiseta.

Passei o primeiro trecho da prova sem problemas e ocupando a 4° posicao, era notável que estava indo bem, pois tinha uma quantidade absurda de fotógrafos tirando fotos minha.... hehehehehe

Minha primeira parada seria ao final do 2° trecho, quando estaria completando uns 24km de prova, fiz essa parada sem problemas, apenas reabasteci gatorade e segui em frente, tinha definido que até os 46km (2° parada) faria sem problemas e sem me preocupar e assim foi, fui correndo curtindo o sol que vinha nascendo e escutando música no meu Ipod (que ainda funcionava).

Mesmo com o sol ainda baixo o calor já era insuportável, cheguei ao final dos 46km e falei para o Felipao: Velho, quero que me espere em todos os pontos de controle até o final da prova, pois está foda!!!!!

Hehehehehe, ainda nao tinha encontrado nenhuma dificuldade, mas já estava sentindo que os próximos 38km seriam PUNK´s.

Nao sei dizer se foi algo piscológico ou nao, mas realmente a prova comecou depois dos 46km, simplesmente a cada km que ia avancando ia sentindo como se os músculos fossem soltar do osso.

Pelo km 50 comecei a ter intolerancia ao gatorade, gel, barras de carboidratos ou qualquer outra coisa, tive que parar para vomitar umas 04 vezes até que consegui chegar no próximo ponto de controle.

Nesse ponto Felipe estava me esperando, troquei de tenis, meias e camiseta, alonguei, pois as caimbras já comecavam a aparecer e sai para o 6 ponto de controle da prova, acho que esse foi o mais difícil de todos, seguia vomitando e as caimbras comecaram a ser monstruosas, até que uma caimbra quase que generalizada (pantorrilhas, coxas, abdomem e costas) fez com que tivesse que deitar na areia, para tentar relaxar os musculos e fazer as caimbras pararem.

Consegui levantar, e segui no trote quase que parando para o final do 6° trecho.

Antes de comecar  a prova havia dito para o Felipe que provavelmente chegaria um momento da prova que eu iria querer desistir, pois estaria esgotado, cansado, com caimbras etc... E pedi para ele que nao deixasse, que só deixasse eu parar se eu desmaiasse ou se me lesionasse. Dito e feito, meu fiel escudeiro nao me deixou parar, me fez massagens nas pantorrilhas e coxas, me deu um banho de água para baixar a temperatura do corpo e trocou meus tenis e meias, pois eu nao tinha mais condicoes de me abaixar.

A essa altura já tinhamos temperaturas de 40° e o sol ardia forte e impiedoso.

Já tinha percorrido uns 68km´s e faltavam apenas 02 trechos da prova, depois de todo o apoio do Felipe e da Kaka, olhei para os dois e disse que nao iria desistir, sabia que tinha muitos amigos me esperando na linha de chegada, pensei na minha mae que sempre me ensinou a seguir em frente, lembrei que essa prova representava todas as dificuldades que enfrentei no ano passado e sabia que assim como na vida, nao poderia desistir, que todos enfrentamos problemas, mas temos que ter garra para seguir em frente.

Me levantei como uma ave Fenix renascida das cinzas, coloquei a mochila nas costas e fui a passos firmes para o 7° Trecho. A essa altura já nao estava mais entreos 5 primeiros da prova, mas isso era o que menos me importava, estava ali por outras razoes, todo o esforco significava muito mais pra mim do que simplesmente competir e ter boa colocacao.

Finalizei o 7° trecho completamente esgotado mas com a certeza de que faria o ultimo trecho da prova de qualquer maneira, desistir nunca doi uma opcao, sabia que chegaria nem que precisasse me rastejar os ultimos 8km.

O ultimo trecho nao foi fácil, porem tinha a certeza de que chegaria, já comecei imaginar a linha de chega e todos meus amigos me esperando, imaginei o quanto minha mae estaria orgulhoso de me ver chegar e nesse momento as lágrimas já comecaram a sair do rosto.

Fui me aproximando da linha de chegada e já comecei a escutar meu nome no mircofone, a organizacao havia se interado da homenagem e o locutor falou ao microfone: Jeison Costa, Categoria Individual, está realizando a prova em homenagem a sua mae que faleceu a duas semanas, Vamos Jeison Estamos com vc..... nesse momento um sorriso com choro comecou a sair, a cada passo via a linha de chegada maior, já podia ver meus amigos gritando e todos me aplaudindo......

Quando cruzei a linha de chegada tive uma descarga de emocoes, alegria, choro, alivio, tudo ao mesmo tempo, senti a prova com cada centimetro do meu corpo e da minha alma, senti como se realmente estivesse deixando o ano passado para trás. Recebi o abraco de todos os amigos.

Foi uma das provas mais emocionantes que já fiz, pois significou muito para mim, durante vários trechos da prova pedi a Deus que me desse forca de continuar, somente queria chegar, nao queria ganhar e nem ser melhor que ninguém, somente queria chegar, pois representava muito para mim e Deus nao me abandonou, sempre esteve comigo me dando forcas.

Obrigado a Deus e a todos pelo apoio, essa prova significou muito para mim.

P.S: No final da prova (apenas eu havia chegado) começou uma chuva inexplicável!!!!!! Parecia uma benção vinda dos céus!!!!! 

Abraços!

Jeison Costa.